segunda-feira, novembro 10, 2025
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Petrobras quer voltar à distribuição, mas mercado vê riscos; entenda | Empresas

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A sinalização dada pela Petrobras de que pode voltar à distribuição de combustíveis, incluindo o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), foi mal recebida por investidores e especialistas da área de energia.

A reação tem três razões: 1) A intenção de atuar no GLP pode representar, na verdade, um primeiro passo para uma atuação mais ampla da Petrobras no varejo de combustíveis, como gasolina e diesel, e não só no gás de cozinha; 2) O capital investido pela empresa pode não garantir o retorno necessário e a Petrobras tem um histórico de projetos que não deram certo; e 3) O investimento no setor é visto com receio, uma vez que pode representar uma maior ingerência política sobre a empresa.

Diante de pesquisas de opinião que mostram a baixa aprovação do governo, uma atuação mais forte da Petrobras no GLP pode ser importante para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à medida que se aproxima um ano eleitoral, em 2026.

O Valor apurou que a diretoria-executiva da Petrobras deve fazer um estudo para revisar a política comercial de formação de preços do GLP. Procurada para comentar o tema, a Petrobras não respondeu até o momento.

A possibilidade de a estatal retomar atividades na distribuição foi anunciada na noite de quinta-feira (7) em comunicado ao mercado no mesmo dia em que a empresa divulgou os resultados financeiros do segundo trimestre. No documento, a empresa indicou que pode voltar à distribuição depois que o conselho de administração deliberou sobre o tema na própria quinta-feira.

No texto, a Petrobras fala em atuar em “negócios rentáveis e de parcerias nas atividades de distribuição, observadas as disposições contratuais vigentes”. Menciona, literalmente, “atuar na distribuição de GLP”, fala em integrar o segmento com outros negócios da empresa no Brasil e no mundo e em oferecer soluções de baixo carbono para os clientes.

Embora a Petrobras não tenha sido explícita em dizer que pode entrar na distribuição de gasolina e diesel, a percepção do mercado é que isso pode acontecer.

O banco Jefferies disse, em relatório, que enxerga o movimento da Petrobras como um primeiro passo para uma possível construção da área de distribuição de combustíveis da estatal a médio prazo. Para a XP, a implementação efetiva deve ocorrer em 2026.

Para a Ativa Investimentos, o retorno da Petrobras à distribuição de GLP é negativo sob o ponto de vista de alocação de capital. Segundo a corretora, não se pode descartar uma eventual aquisição da Vibra, ex-BR Distribuidora.

“Sobre distribuição de combustíveis, a empresa limitou-se a afirmar que não quebrará contratos de ‘non-compete’ [concorrência]. Ou seja, não atuará via marca própria. Para nós [Ativa], isso não exclui uma eventual entrada no segmento de distribuição, seja via aquisição da Vibra ou de outro player”, disse a Ativa em relatório.

Procurada, a Vibra disse que não iria comentar o assunto.

Na sexta-feira (8), na B3, a Petrobras fechou com uma perda de valor de mercado de cerca de R$ 32 bilhões, situando-se em R$ 410,2 bilhões, segundo dados do Valor Data. As ações ordinárias caíram 7,78%, cotadas a R$ 32,84, enquanto as preferenciais perderam 6,15%, a R$ 30,53.

As quedas foram atribuídas a fluxos de caixa e dividendos menores do que os esperados no balanço do segundo trimestre e também pelos receios do mercado com a notícia sobre uma possível volta da empresa à distribuição.

O Valor lista cinco pontos para entender o movimento da Petrobras e os interesses do governo Lula.

Gasoduto da Petrobras — Foto: Agência Petrobras
Gasoduto da Petrobras — Foto: Agência Petrobras

O que aconteceu com a distribuição da Petrobras?

A estatal vendeu a BR Distribuidora, subsidiária para atuar no varejo de combustíveis, em 2021, ainda no governo de Jair Bolsonaro. A empresa passou a se chamar Vibra e teve o capital disperso em bolsa. A Vibra tem direito de usar a marca Petrobras até 2029 nos postos de gasolina. Depois desse prazo, se não houver acordo com a estatal, a Vibra tem seis anos para trocar a marca.

No caso do GLP, a Petrobras vendeu, em 2020, a Liquigás, subsidiária integral que atuava no engarrafamento, distribuição e comercialização de GLP, para a Copagaz.

O que a Petrobras tem falado?

Desde o começo do governo Lula, a Petrobras tem dado sinais de que poderia voltar ao mercado de distribuição, mas, até agora, não tinha feito anúncios concretos.

A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, tem criticado a distribuição ao dizer que, quando a estatal reduz preços nas refinarias, a queda não chega na ponta, nas bombas.

Em maio, na divulgação de resultados do primeiro trimestre, Chambriard pediu que os consumidores cobrassem dos postos de combustíveis reduções de preços anunciadas pela Petrobras.

Para se defender, a empresa diz que responde somente por uma parcela do preço final, o que é verdade. Do preço médio da gasolina no país, na semana entre 27 de julho e 2 de agosto, a parcela de responsabilidade da Petrobras era de 33,6%. O segmento de distribuição e revenda ficava com 18,3%, o custo do etanol anidro (misturado à gasolina) respondia por 13,1%, o imposto estadual, por 23,7%, e os impostos federais, por 11,3%.

Como a diretoria da Petrobras explica a medida

Na sexta-feira, a diretoria da Petrobras explicou em teleconferência que a aprovação da volta à distribuição pelo conselho significa “reabrir a porta”, mas não indica que a companhia fará alguma aquisição neste momento.

Chambriard disse que a saída da companhia das frentes de distribuição significou um limitante à atuação da estatal, o que não deveria ter acontecido, na visão da executiva. “Queremos portas abertas para optar por melhor agregação de valor e a forma mais eficiente de colocar o produto no mercado”, disse Chambriard. E acrescentou: “Há algum tempo, a companhia teve a obrigação de sair de alguns mercados.”

A venda direta de gás, disse Chambriard, garantiria mercado à crescente produção da petroleira. A Petrobras busca consumidores industriais de GLP, não apenas o residencial, disse.

O diretor de logística, comercialização e mercados da Petrobras, Claudio Schlosser, disse que a estatal vem conversando com grandes consumidores de GLP por meio de venda direta. O negócio pode ser adotado como um caminho para se aproximar do mercado, segundo ele.

No diesel, a Petrobras já faz vendas diretas para grandes consumidores industriais.

Governo quer baratear o gás

O governo federal tem dito que vai lançar o programa Gás para Todos, que prevê a distribuição de botijões de gás de cozinha para cerca de 17 milhões de famílias até dezembro de 2027. A iniciativa seria lançada dia 5 deste mês e foi adiada.

A oferta de um gás mais barato e a existência de mecanismos para subsidiar o produto a consumidores de baixa renda têm sido uma das metas do governo. Especialistas dizem que a atual política de preços do gás não tem funcionando para atingir o objetivo do governo, de reduzir o custo do insumo.

O que diz o presidente Lula

Ao participar de um evento na Refinaria Duque de Caxias (Reduc) em 4 de julho, Lula pediu que os órgãos fiscalizadores, como a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (Senacon), reforçassem a vigilância sobre os preços de combustíveis nos postos.

“Nossa gasolina e nosso diesel estão mais baratos do que quando entramos na presidência. Mesmo quando a Petrobras baixa, muitos postos não reduzem. É preciso que esses órgãos não permitam que nenhum posto de gasolina nesse país venda o produto muito mais caro do que deve vender. É preciso fiscalizar para saber se os preços estão justos, enquanto tem alguém tentando enganar o consumidor”, disse Lula, na ocasião.

No mesmo evento, o presidente voltou a criticar a venda da BR Distribuidora, o que levou, segundo ele, à perda de controle da Petrobras sobre os preços praticados nas bombas. “Já tentaram privatizar e vender a Petrobras, mas conseguiram vender partes. Não temos, hoje, uma distribuidora. Se ainda tivéssemos a BR Distribuidora, usaríamos os postos para entregar o gás.” Segundo Lula, a Petrobras consegue entregar o botijão de gás a R$ 37, mas o produto chega ao consumidor a R$ 140.

Não fica claro, no momento, se a Petrobras pode avançar de fato em uma eventual compra da Vibra, uma vez que o negócio poderia exigir um grande desembolso de capital. Analistas de bancos assumem que o negócio pode eventualmente acontecer. A Vibra não comenta.

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